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6 de janeiro de 2014

A PÉSSIMA LIÇÃO QUE APLAUDIMOS NAS NOVELAS

Estávamos Heloísa e eu em nossa sala ontem à noite após o lanche costumeiro, conversando sobre o que fora o dia de trabalho. Televisor ligado sem ninguém prestar atenção ao que era mostrado, Jornal Nacional chegou ao final e logo começou "Amor à Vida", cujo enredo não tem nada a ver com o título. Particularmente, penso que novelas hoje em dia são estímulo a tudo o que não deve ser feito e esta trama da TV Globo, prima pelo exagero e a inconsequência. Quem se dispuser a ser malandro em todos os sentidos, em aprender o que não deve ser colocado em prática na vida, quem procurar como agir para prejudicar o próximo, seja moralmente ou profissionalmente, tem nesta novela, um curso de pós graduação excelente. E, como bonificação, recebe instruções espetaculares sobre ações para dilacerar relações familiares, traições e tantas maledicências que, acredito, tem sido acompanhada com avidez por imensa maioria do povo brasileiro. E este ensino entra em nossos lares sem a menor cerimonia, com nossa autorização, crianças e jovens de todas as idades assistindo com ávido interesse as cenas que para mim são inadequadas, assimilando o que não presta e ávidas para colocar as tais "lições novelescas" em prática.
Acordei bem cedo hoje como em todos os dias, preparei o café, observei da minha varanda o sol surgindo, ouvi os pássaros cantando e saudando a manhã, e eu apreciando este maravilhoso espetáculo da natureza, impregnado com a beleza das flores que plantei e cuido com carinho. Após o café da manhã, debrucei-me à leitura dos e-mails e do noticiário dos jornais. Não consegui levar adiante a tarefa, porque me veio à mente as cenas do capítulo da novela que casualmente assisti. Dei-me conta então que estava com um estranho nó ocupando espaço meu estômago. Rememorando as idiotas cenas da novela, lembrei-me estarrecido de um fato acontecido no mês de Abril em Tanabi (SP), cidade aqui da nossa região, onde um pai viciado em drogas entregou a própria filha para ser a escrava sexual de um traficante muito conhecido, como pagamento pela dívida que tinha com o marginal. O absurdo maior é que essa garota tinha 5 anos de idade e o traficante .... 14 anos. Isso mesmo que vocês leram, o pai viciado em crack entregou a filha de 5 anos ao traficante que tem 14 anos, para ser violentada e assim resgatar sua dívida com a compra dos entorpecentes. A garotinha foi seviciada, abusada sexualmente por longo tempo pelo jovem bandido e como ela gritava e tentava se defender da violência, por pouco não foi estrangulada. O pai, Gleidson Pedro Martins, de 22 anos, permaneceu durante todo o tempo na frente do imóvel onde a menina foi violentada, vigiando para impedir a aproximação de qualquer pessoa.
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Adivinhe de quanto é a dívida deste pai, usuário de crack? R$ 30,00. É uma história terrível, que aconteceu na vizinha e hospitaleira cidade de Tanabi. A menina só não perdeu a vida nas mãos desse bandido adolescente, porque a mãe sentiu falta da garota que brincava no quintal e saiu para procurá-la e, ouvindo os gritos, descobriu a filha no imóvel vizinho. Esta senhora que na época estava com gravidez de quatro meses ainda viu o traficante sair do local ajeitando as roupas e rindo descaradamente. Após resgatar a filha e chamar a Polícia, a senhora foi levada com a menina para receber atendimento médico em São José do Rio Preto. Moradores ficaram sabendo do ocorrido e cercaram a casa do traficante, tentando linchá-lo, mas este foi resgatado pela Polícia Militar. O que foi uma pena, pois este monstrinho merecia um duro castigo.
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Traçando uma linha imaginária unindo o enredo de "Amor à Vida" e este fato não tão recente em Tanabi, fiquei como você, caro leitor, estarrecido e não consegui até agora esconder um sentimento de revolta. Um pai viciado em drogas, entregando a filha para pagar sua dívida com traficante de drogas não pode ser visto como fato isolado. É preciso que nos debrucemos em profunda reflexão sobre o momento em que vivemos neste nosso planeta Terra. Não me alinho entre fundamentalistas que apregoam o fim do mundo ou fim dos tempos como queiram, ou sobre a iminência de um castigo divino se abatendo sobre as pessoas. Prefiro pensar que a culpa é unicamente do ser humano, que perdeu a noção do que é certo ou errado, do que é viver em sociedade, que deixou de lado o respeito às leis, que se afastou de verdadeiros ensinamentos religiosos, que não dá mais valor à vida, que se deixou inebriar pela ganância e pela frivolidade, que não está nem aí com o sofrimento dos desvalidos pela sorte.
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Vivemos uma farsa continuada, onde o que tem valor é a roupa cara e o carro mais moderno, onde o que deve ser valorizado é o status social. O que impera é o montante da conta bancária, a joia reluzente, o penteado vistoso, o tênis importado, a camiseta com a logomarca famosa que chama a atenção. A sociedade está sendo bombardeada com propagandas enganosas, onde tudo é bonito e fácil de ser conseguido. As novelas não mostram mais enredos que falam do verdadeiro amor e não ensinam a ação solidária. Em nossos lares e em qualquer horário, permitimos a invasão de programas onde se ensina a degradação e a dissolução da estrutura da família. Os jovens e adolescentes são compelidos a conquistar tudo com facilidade. A prática do sexo é estimulada sem nenhum constrangimento ou cuidado, e desde a mais tenra idade, nossos filhos e filhas assistem livremente os programas na televisão que louvam a licenciosidade, o sexo fácil e promíscuo como se fossem coisas absolutamente normais. Pior ainda, muitos programas revelam com todas as cores e com todas as letras, que os velhos pais “estão por fora” e que os jovens filhos não devem mais aceitar o estilo de vida regrada, não lhes devem obediência alguma, pois o que vale é viver feliz e nada mais.
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Com tanto glamour à disposição, nossos jovens adolescentes ainda são informados que possuem todos os direitos do mundo e.... nenhuma obrigação. São impedidos pela legislação de trabalharem enquanto não atingirem a maioridade. Podem faltar às aulas nas escolas e não precisam se preocupar com aquilo que os professores ensinam, porque não serão reprovados no final do ano. À disposição das famílias, o Governo Federal oferece todo tipo de bolsa financeira, um desestímulo da opção pelo trabalho sério, continuado e correto. Estamos com isso, criando uma sociedade dependente das esmolas mensais do Governos Federal, Estadual e Municipal, em troca abjeta de votos a cada eleição.
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Mas voltando às novelas e ao caso desta infeliz menina de 5 anos que foi entregue ao traficante de 14 anos, pelo pai viciado em crack, para resgatar a dívida pela compra das drogas, penso que esta situação novelesca e o lamentável acontecimento em Tanabi, não podem ser encarados como coisa comum. Não bastou recolher o bandido adolescente à Fundação Casa. Nem o necessário apoio psicológico à garotinha e família, se é que tiveram esse privilégio. É preciso que a sociedade se mobilize para exigir do Governo, a mudança das leis, acabando com esta história de proteção a menores infratores, mas colocando-os na condição de sofrerem as penas da lei tão logo pratiquem seus delitos. Não podemos mais conviver com essa situação degradante. Ou mudamos agora, ou nos declaramos vencidos pelo crime organizado. E, que as emissoras de televisão adotem um manual de conduta, com observância da moral e dos bons costumes, que se debrucem para encontrar enredos que possam ensinar crianças e adolescentes. Não é preciso um censor com lápis vermelho ou um pelotão fardado e baionetas caladas para "ensinar" a mídia a fazer o certo. Basta que se adote o respeito ao ser humano - principalmente às crianças e adolescentes - extirpando os maus exemplos, para que, cedo ou tarde, estes não sejam adotados como atos normais.

FONTE BLOG HAIRTON SANTIAGO

http://hairtonsantiago.blogspot.com.br/2013/12/a-pessima-licao-que-aplaudimos-nas.html




21 de setembro de 2013

LIXO IMPERIAL


Uma obra do metrô do Rio revelou um aspecto curioso da história do Brasil: o lixo produzido pela família real. Em meio às escavações de uma antiga estação próxima ao palácio imperial foram encontradas aproximadamente 210 mil peças e fragmentos de utensílios, usados pela corte portuguesa dentre os séculos XVI e XIX. Nada de muito precioso, senão o fato de nos oferecer uma ideia do fausto da tal família – como qualquer outra arvorada nos privilégios de mando e poder sobre um povo – em contraposição às carências e pobreza que o lixo do populacho sempre nos revelou.

Só para registro, nossa família real era amante de tigelas européias e chinesas, colheres de prata, pastas dentifrícias acondicionas em caixinhas de porcelana, muitas jóias, perfumes finíssimos e loções francesas, remédios ingleses, água mineral portuguesa engarrafadas exclusivamente “para a família real” e um curioso desodorante com o nome bem aportuguesado: “anticatinga”. Esse derrapou na objetividade! Mas, como bem sabem os estudiosos de qualquer grupo social: pelo lixo se conhece o luxo. Ou, simplificando: o lixo que produzimos revela o que somos!
Dessa forma, fico a imaginar se fosse feito um estudo minucioso do lixo produzido nos palácios brasilienses. Ou nas mansões dos que nos governam, até mesmo a nível municipal. Ou nos condomínios e resorts que fragmentam nossa convivência urbana. Ou mesmo nos muros que separam e delineiam nossas posses, nossas vilas e favelas, nosso quintal das praças ditas públicas, nosso “eu” daqueles semelhantes para os quais tapamos nariz e olhos, desejando fazer uso da anticatinga imperial. Ou daqueles aos quais ateamos fogo ou enterramos vivos pelas mãos dos filhinhos de papais apoiados em surdina e financiados por muitos como saneadores de uma sociedade sórdida, insana, excludente. Do império à república, da escravidão ao proletariado aparentemente protegido por uma CLT, pouco evoluímos, pois o lixo continua o mesmo, senão pior.

Pior quando as peças encontradas são frutos das escavações da consciência que ainda nos resta. O que se pensar do jogo político sempre ao sabor das ondas dos interesses partidários e ou corporativos, nunca populares? Das leis antitrustes, costuradas infindamente com emendas sobre emendas, dos “embargos infringentes” e processos intermináveis quando o réu ou condenado não é um simples mortal da galera de contribuintes? Quando uma decisão da corte suprema se anula num empate técnico (tanto faz cinco a cinco ou zero a zero) e tudo se é entregue ao parecer de um único e decisivo voto de minerva? Justiça realmente cega e muda!

Nada de mais vergonhoso para uma nação que ver sua história escrita sobre o lixo que produz. “Ora, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis. A mim pouco se me dá ser julgado por vós ou por tribunal humano”, dizia Paulo aos Coríntios (4,2), que concluía: “Esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido” (4,5). E, intuitivamente, afirmava no final “Chegamos a ser como que o lixo do mundo, a escória de todos até agora...” Nada a temer quando acima das leis - do lixo humano – que bem sabemos produzir, está a Justiça maior, aquela que bem conhece nossa história pessoal, individual, o palácio mais glorioso que somos, que temos: o reino dentre nós.

Como bem lembrou a voz profética de Samuel: “Levanta do pó o mendigo, do lixo retira o indigente, para fazê-los sentar-se entre os nobres e outorgar-lhe um trono de honra. Porque do Senhor são as colunas da terra. Sobre elas estabeleceu o mundo.” (I Sam 2,8) Sobre essa justiça às vezes dizemos: tarda, mas não falha. Que venha a nós o seu Reino!

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br