7 de fevereiro de 2013

O sabor de a "Queda da Manga"-João Fidélis de Campos Filho

Tempo! Quero viver mais duzentos anos... (Sal da Terra, Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

Quisera poder viver mais duzentos anos para ler todos os livros que acorrem à minha mente e descobrir os incontáveis universos que a linguagem humana permite externar. O último que li foi “A Queda da Manga”, de Luciana Crepaldi, vencedora do Prêmio Nelson Seixas de Fomento à Cultura de São José de Rio Preto. Confesso que a experiência da leitura desta obra se assemelha à degustação de uma manga madura, que vai deixando seu sabor pouco a pouco penetrar em nosso ser. Não pense o leitor que vai encontrar o doce gosto das mangas comuns: é uma leitura que incomoda, que nos inspira, e nos faz pensar constantemente neste grande enigma que é a vida humana neste planeta.

Através da análise psicológica de uma personagem que perdeu todos os parâmetros que definem seu estar no mundo, a jornalista Luciana em sua primeira inserção no campo literário, nos conduz aos intrincados labirintos (à semelhança do universo simbólico de Jorge Luis Borges) e conflitos que compõe a história dos homens. E imerso nestas digressões afluem muitas ideias que têm o efeito de trazer o ser à sua consciência, desnudando-o de sua vivência aparente e colocando frente a frente com o espelho real (outro recurso Borgeano)

A personagem de Luciana Crepaldi cumpre seu destino sem se deixar consumir pela onda ilusória que rouba dos homens o ser-em-si. Ela quer ir mais longe e fugir da condição passiva daqueles homens aprisionados na caverna de Platão (que não conheciam a luz do mundo exterior). E busca através de sua história respostas que nem sempre o mundo pode dar. Porque somos animais ainda influenciados por instintos irracionais. Animais recém-saídos da animalidade. Animais que estão agora aprendendo a viver juntos e a ser mais humanos. E neste percurso passamos por um período mitológico essencial à sobrevivência da espécie, mas que agora precisa ser dispensado para a humanidade galgue novos patamares.

Em “A Queda da Manga” a perplexidade da existência humana é realçada em tons fortes e nem os milhares de deuses que o homem fabricou em sua história terrena podem dirimir estas contradições. O estar no mundo provoca na personagem principal uma angústia reflexiva que, como Sartre dizia em “O Ser e o Nada” está mais próxima da verdadeira condição humana.

Luciana já demarcou seu território com esta inspirada obra. Agora é esperar suas novas ousadias no mundo das letras. Leiam amigos leitores, “A Queda da Manga” e retirem dela suas preciosidades.

João Fidélis de Campos Filho-Cirurgião-Dentista

 http://jofideli.blogspot.com
 






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