18 de julho de 2010

JOÃO DE BARRO -Rivaldo R. Ribeiro

Foto Kleber A.Ribeiro

Meu dom: construtor..., olhei uma árvore e vi nela o meu mundo... Num galho confiei a minha esperança do resto da minha vida... Do alto vejo a planície, o vento, as borboletas, o vale, o rio, as sombras das nuvens, os pomares com meu alimento, a primavera, e a liberdade...


Nesta árvore fiz com barro e capim minha fortaleza. A porta de entrada nunca verá chuva: confiei no meu instinto e na minha sabedoria, sei de que lado que a chuva vai bater, de que lado que o vento vem com suas rajadas. Também como o amor ele bateu forte do lado esquerdo, definitivo e sempre... Sou um pássaro cristão não trabalho aos domingos.


É tão bom ser simples! Ser perfeito justamente porque não se importa com as imperfeições, olhar o mundo como um reino, não deixar pegadas porque os caminhos são mágicos...


Não me importar com os segredos da luz, os segredos da água, os segredos do vento, não ter medo da sede e da fome. Emprestei um galho daquela arvore, ela não se incomodou. Incomodar por quê? Não me declarei proprietário! Ali estou sem ser parasita, num convívio de amizade sem ser escravo.



Não abandonei meus filhotes, não tive medo não fui covarde... O mundo não os negou alimento, todos os dias eles aguardavam meu retorno com os bicos abertos, e com as asinhas batendo de alegria, todos faziam uma algazarra cabeça com cabeça certos de seu quinhão.


Éramos nós os filhotes e o amor...


O meu triunfo, não tem canções de vitória, caminhos manchados de sangue, ídolos, dores na alma, glorias covardes escondidas sobre outros infortúnios, apenas nossa casinha de barro, igual a todas as outras casinhas nos galhos das arvores das florestas... Porque a mentira, a arrogância, a maldade, a traição, não tem ninho, não existe e não é sonho, não tem passado e nem futuro...


Agora de repente estão me expulsando, quando vôo são longas distancias de um mar verde, não encontro lugar para pousar ou construir minha casa, apenas algumas arvores solitárias com seu tronco negro que denuncia que ali houve fogo, não vou arriscar minha família de serem queimadas, que pena aqui era meu mundo, tenho que ir embora para outras florestas... Ser intruso em outras paragens...


Pesquisar  João de Barro,pássaro.

Um comentário:

Blog do Morani disse...

Amigo Rivaldo:

Há muito de poesia nessa narrativa sobre o pássaro João de Barro. Sua sensibilidade está em franca evolução ou você já trazia consigo a verve inigualável dos poetas? Você nos conta, de maneira muito leve e ponderada os obstáculos encontrados pelo pássaro que é personagem principal da narrativa, contudo, há outro personagem que não se mostra abertamente, mas se faz presente como elemento nocivo ao meio onde vive a ave que inteligentemente posta sua fortaleza de maneira muito adequada em relação aos elementos naturais, mas que não poderá vencer o seu maior inimigo, inimigo de outros animais e do próprio homem: o fogo e as queimadas criminosas que vão obrigar o obreiro João de Barro a migrar a outras florestas abandonando o meio em que nasceu, se criou e que criava seus
filhotes. Por trás disso que poderia serr uma fábulaa, existe uma grande e real verdade. Dos bichos, esperemos tudo de certo, porém dos Homens só desastres, violências e total indiferença à Natureza.