29 de julho de 2012

Prazer e Ceticismo

João Fidélis de Campos Filho

       Esta superexposição da vida em nosso planeta, que se tornou um fenômeno nos meios de comunicação de massa, desenvolve nas pessoas uma espécie de reação de defesa que é na verdade uma insensibilidade ou indiferença em relação ao desenrolar da vida diária. De fato, se por um lado muitos acontecimentos no passado não eram divulgados com tanta rapidez, por outro a população mundial era menor e mais isolada em suas próprias culturas. Sendo assim o que faz um acontecimento parecer normal é sua repetição, sem que a sociedade crie mecanismos para inibir esta repetição. É o que justifica, por exemplo, a persistência de muitas ações repugnantes como maus tratos a animais, a criminalidade em todos os seus aspectos que verificamos atualmente e a falta de ética em vários setores da vida social.
       E quando se vêm impotentes diante dos males que chegam instantaneamente, as pessoas se valem do mecanismo da sublimação ou procuram o prazer como refúgio a um mundo aparentemente caótico. Por isso dois grandes pensadores estão muito em evidência em nossa época : Epicuro e Montaigne.
       A redescoberta de Epicuro se deve a uma espécie de carapaça que ele fabricou para evitar o sofrimento humano diante de seu inevitável destino e das dores da existência. Ele fundamentou-se no conceito da ataraxia, que é uma palavra grega que significa viver em estado de prazer equilibrado e estável.  Epicuro defendia duas categorias de prazer, o primeiro era o prazer advindo dos vícios e da compulsividade humana, que são de consequências danosas, pois no fundo provocam situações prejudiciais e provocam a dor que se pretende evitar. O segundo é o prazer de uma vida moderada, sem acúmulo de muitos bens materiais, atribulações de vida pública e excesso de trabalho. E o que fazer para evitar o prazer negativo? Epicuro dizia que há 4 antidotos contra isso, que são: 1- “Não se deve temer os Deuses” . O temor a Deus mantém o homem sobre uma constante ameaça, o que aumenta a autocensura e inibe sua criatividade.
2-“Não se deve temer a morte”. É obvio que não se deve ignorar o tempo de vida, mas a introjeção de ideia de morte pode influenciar negativamente o estado de espírito e a vida diária.
3-“O Bem não é difícil de alcançar”. Neste caso o homem deve procurar a felicidade em coisas simples, procurando manter a mente em paz.
4- ” Os males não são difíceis de suportar”. Epicuro procura salientar que as dores humanas dependem muito da reação de cada um a elas. Diante de algo inevitável, o desespero, a depressão e a angústia só fazem piorar a situação. Como bem observa Epicuro todas as dores têm um tempo de duração e mesmo as que perduram mais são suportáveis.
       Para combater a dor Epicuro diz que o homem possui instrumentos importantes que são: a inteligência, o raciocínio, o autodomínio e a justiça.
       Outro pensador que está muito em voga hoje em dia é Michel de Montaigne. Este filósofo francês foi um crítico dos várias correntes de pensamento de seu tempo e defendia que o conhecimento total do mundo é impossível devido à sua complexidade e as múltiplas variantes que envolvem esta questão.
       Montaigne defende que o homem é senhor de poucas certezas e, diante disso não deve queimar neurônios e levar uma vida módica aproveitando seguindo sua intuição.
       Deste mix entre o prazer e a incerteza resulta um ser humano que ainda carrega quanto à sua essência uma profunda perplexidade.

João Fidélis de Campos Filho-Cirurgião-Dentista


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